Wednesday, August 23, 2017

Relacionamentos Abusivos


ATENÇÃO: Alerta de textão. Textão mesmo! Afinal, são 35 anos de vida.
Sinais de Relação Abusiva. Pessoas abusivas são freqüentemente, elas mesmas, sobreviventes de abuso. O comportamento abusivo pode variar desde o abuso emocional, verbal, até o físico e sexual. Freqüentemente uma pessoa abusiva emocionalmente é também abusiva verbalmente ou uma combinação de todos os tipos acima.             (www.sosmulherefamilia.org.br/sinais-de-relação-abusiva)

  Não sei ao certo o que me levou a compartilhar isso aqui, não tive nenhum episódio recente que tenha me feito sentir alguma dor, o que eu imagino que o motivo é,que existem episódios das nossas vidas que por algum motivo escolhemos não compartilhar e eu me pergunto por que esperei tanto tempo para externalizar isso? Existem muitas possibilidades, mas as principais são:

- As pessoas não querem saber o que acontece de ruim com a gente;
- Faz tanto tempo que nem vale ficar contando, isso não interferiu em nada na minha vida;
- Não sei, não encontro deixas para falar sobre isso...
- Ser "coitadinha" não faz meu estilo

Seja qual for a desculpa que você use, todas não são motivos, são só desculpas para não falar sobre um ou mais de um - que é o meu caso - episódios de violência que sim, deixou marcas, se não nós não teríamos nos forçado a esquecer. Quantas vezes você, para aconselhar uma amiga. usa exemplos de situações que você quebrou a cara para deixá-la melhor ou para evitar que o mesmo aconteça? Mas quando se trata disso, parece que preferimos ouvir a ter que fazer um depoimento sobre nossas experiências.

Então, hoje eu resolvi compartilhar as minhas experiências de relacionamentos abusivos, que não necessariamente foi vivida com namorados, e eu espero sinceramente que essa minha ação ajude todos a tratar esse assunto abertamente, no seu tempo é claro, mas que esse tema deixe de ser um tabu. Eu acredito que quanto mais abertamente falamos a respeito o assunto fique tão comum que todos consigamos ficar atentos a qualquer sinal de abuso sofrido ou feito por nós.

1 - Amigo da Família

Como todo mundo, nossos pais, avós, tios e toda família tem amigos, pessoas que circulam na nossa casa todos os dias, fins de semana, eventos e tudo mais e claro, na minha não é diferente. Quando eu ia para a casa do meu bisavó - que era um morador de beira de rio (ribeirinho) = tinha na casa dele uma TV, o que na época não era algo comum, então muitos vizinhos e amigos chegavam para assistir jornal, pois bem. Tinha um que o apelido dele era "Soldado" e ele era sempre muito engraçado, um sr. de seus 40 e tantos anos, cheio de caretas engraçadas, era quase um primo da minha mãe de tanto que convivia com eles, então eu o via com muita frequência. Quando foi uma certa noite, sentado na cadeira eu passei na frente dele e ele pegou no meu braço e disse "Senta aqui tia" e fez sinal pro colo dele, eu não lembro muito bem, mas eu acho que disse não, porque no momento que ele fez isso a TV iluminou muito forte e como na casa não tinha energia - a TV funcionava ligada a uma bateria - o rosto dele ficou iluminado de um jeito aterrorizante, eu disse não. Só que ele me carregou e me colocou no colo dele mesmo assim e disse que era pra eu ficar quieta porque eu estava fazendo muito barulho andando de um lado pro outro da casa. Eu só tinha uns 8 ou 9 anos, é claro que eu ficaria andando pela casa, eu não me interessava por TV quanto mais jornal.
Então, sentada no colo dele ele deslizou a mão pra minha coxa e logo em seguida, sem cerimônia pra minha virilha, eu desci num pulo da coxa dele e corri pro braço da mamãe. Desde então eu o via e corria pra me esconder dele. Por que? Por que eu senti medo se eu não tinha conhecimento do que ele pretendia fazer? Por que aquilo me pareceu errado se eu nem sabia da existência do sexo? Se nunca ninguém tinha me falado para eu tomar cuidado com certas ações de certas pessoas além do básico que não é pra falar com estranhos e nem aceitar doces?
Fica aí o questionamento, né verdade?

2 - Babá

Para terem parâmetros em relação a épocas digo que sou nascida em 82, então, entendedores entenderão.
Era muito mais comum na minha infância e pré-adolescência a maioria das famílias terem condições de ter um que hoje é chamado de doméstico e na época a expressão mais usada era "empregada" que normalmente eram filhas de parentes distantes que vinham para a cidade para terem oportunidade de estudo, e outras eram indicações desses parentes. Pois bem, tivemos uma que era responsável pela organização da casa e também de nós (meu irmão e eu), e ela já estava a uns anos conosco, tudo ia muito bem, até que na copa de 90 a família tava reunida pra ver o jogo na casa dos meus avós, de quem eu sempre fui vizinha, e os primos estavam todos reunidos, aí, a minha babá que estava responsável por todas as crianças mandou todos os meus primos brincarem lá fora e pediu pra que eu e um outro ficássemos que ela ia contar uma história pra gente. A história era... pra ficarmos nus e deitarmos na cama com meu primo por cima de mim enquanto ela olhava, e eu lembro muito bem que eu falei pro meu primo que ele tava me machucando e ele também tava se machucando e ela irritada mandou ele sair de cima de mim e eu me vestir e sair do quarto, ficando só ela e ele lá com portas fechadas.
Não contei nada disso pra minha mãe, e ela foi demitida meses depois por ter roubado alguns cruzeiros da minha avó.
Nesse momento minha inocência foi quebrada.

3 - Meu primeiro namorado mais velho

Eu, no auge dos meus 14 anos conheci por acaso um inquilino do meu avô, e depois desse primeiro contato que foi quando eu tinha acabado de perder minha avó ele se aproximou, e se aproximou muito, tanto que começamos a namorar, foi com ele que perdi minha virgindade, claro que consenti, e eu queria muito, eu falo por mim, não me arrependo de ter tido minha primeira relação com 14 anos e nem com um homem 16 anos mais velho. Afinal, não foi ele quem quebrou minha inocência. Tudo que eu fiz foi consentido até que aconteceu algo que mais grave que me fez terminar, mas irei na sequência cronológica.
Quando fomos namorar oficialmente minha mãe foi muito contra por causa da idade ele, mas no fim ela acabou permitindo, então, tudo ia muito bem até que alguns meses ele começou a sumir nos finais de semana e só aparecia na segunda e dizia que tinha viajado com a irmã e o cunhado, ok. Eu agia de boa com isso, eu não desconfiava dele, até porque, eu tinha uma tia ótima conselheira, ela sempre me dizia o que fazer em situações assim e eu sempre ouvia. Não ligava pra saber onde tava, quando vinha, nada. Era muito na minha, até que eu não lembro quando, em que momento do namoro ele começou a ser o louco doentio. AS coisas foram começando de um jeito que nunca me dei conta de que aquilo era abusivo. Exemplos: Na época o celular analógico já existia, mas era extremamente caro ter e manter um, ele tinha, claro, já trabalhava, eu não, então para falar comigo tinha que ser no telefone fixo da casa do meu avô, e ele surtava quando dava ocupado, surtava mesmo, de ir pra casa só pra ver quem estava usando o telefone fixo da casa do meu avô; - Uma vez estava sentada na parada de ônibus esperando ele me buscar no colégio (ele me levava e me buscava todos os dias) um rapaz que veio de algum lugar do mundo sentou no mesmo banco esperando o ônibus dele, quando ele chegou e viu foi logo gritando querendo saber quem era o cara;
Eram tantos absurdos que só para descrever essas situações precisaria de outro post textão.
Bom, além desses shows diários que ele deu durante 2 anos de namoro a gota d'água foi na noite que ele chegou porre no portão de casa com o pretexto de me devolver o micro system que eu tinha emprestado, me pediu um copo com água e eu abri o portão e ele entrou, dei a água pra ele e ele disse que tava muito bêbado e perguntou se podia dormir lá, morava só meu avô e eu nessa época e eu com medo de que ele dirigisse naquele estado, assumi o risco de chatear meu avô por ter permitido um namorado dormir em casa sem falar com ele antes e deixei ele subir.
Ele deitou na minha cama e eu na rede, quando apaguei a luz e finalmente fechei os olhos fui surpreendida com um soco. E aí... começou a luta.
Liguei a luz e perguntou se ele tava doido e ele disse que tinha certeza que eu transava com outro, as acusações dele eram embasadas no fato de eu não querer mais ter relações sexuais com ele. Veja só... se eu não queria mais sexo com ele era porque eu tinha outro, jamais seria porque nosso namoro tava uma bosta. Por que eu tinha que aturar crises de ciúmes diárias dele, ataques de fúria diários, ligações de estranhos dizendo que eram meus admiradores secretos a mando dele pra saber se eu cairia.
Naquela noite eu mostrei toda a minha força de quem foi criada pra ser o que eu queria ser, para fazer o que eu queria fazer e não para o que os outros me dissessem.
Lutei até o fim e ele não conseguiu me violentar, que era o objetivo dele.
Foi a pior noite! no dia seguinte agi como se nada tivesse acontecido, nunca contei essa experiência pra ninguém da minha família. Meses depois ele procurou minha mãe para pedir a ela que depusesse a favor dele em uma acusação que ele tava sofrendo de ter entrado no apartamento de alguém que ele conhecia.
É cada louco que aparece né?

4 - Namoradinho de Infância

Depois desse fim trágico, reencontrei meu primeiro amor. Um namorico platônico que tive desde pequena e que não tinha dado certo antes porque eu nunca podia sair de casa e ele já ia para carnavais fora de época e eu só podia namorá-lo nos fins de semana de 19h as 22h na sala de casa com todos vendo TV...rs o famoso "namorar de porta"
Então, quando nos reencontramos foi um pouco diferente, eu já era mais espertinha, já não era mais virgem... e aí que na nossa primeira noite juntos (12-06-1999) eu engravidei ✌ (espertinha eu né?);
Então, fase do susto passada, fui forçada a ir morar na casa do tal, atitude muito comum na época e acho que ainda acontece nos dias de hoje.
Beleza. Estava lá, brincando de ser gata borralheira, limpando, lavando, passando...até que perdi o bebê e permanecí morando lá até o tempo do resguardo, e nesse período adivinhem, ele arrumou uma namorado no colégio dele (fala se fudi de novo, mais uma vez ).
Como ele já estava de saco cheio de me ver por ali atrapalhando a vida dele, ele começou a me menosprezar, cada "brincadeira" dele comigo era do tipo: " Tu tens que te arrumar, te vestir de mulher, pintar teu cabelo de loiro, usar shortinhos curtos, ser mais sensual. Tu nem age como mulher, nunca olha minha carteira nem as minhas coisas pra saber se tenho outra." S É R I O!!
Mas o ápice foi quando uma noite, conversando com nosso amigo também de infância ele falou assim "tu é largona, tens que fazer pompoarismo, já nem era mais virgem quando a gente transou" e nosso amigo constrangido com a situação chamou a atenção dele e o amigo me pediu desculpas. E então terminamos, não por isso, mas porque ele decidiu apresentar a outra. Sim, eu não tinha vergonha na cara e eu acreditava que ele era o amor da minha vida.

7 - O Melhor Namorado de Todos. Nas redes sociais.

Estava eu lá, vivendo minha vida, tendo um rolo com um ex namorado, e aí do nada, pow! Esse ser mais perfeito e encantador reapareceu na minha pacata vida. Eu o conhecia, e o pouco que vi já não gostava, mas de certa forma eu tinha uma "aproximação" natural com ele, apesar de ele demonstrar ser um cabeça seca eu me sentia feliz em ajudar com o que ele precisava, seja pra conhecer alguém, pra conseguir emprego, rir das besteiras que ele falava. Aí nos afastamos e de repente ele foi morar no meu bairro e quando vi, estávamos fazendo exercícios juntos. Ele era uma companhia para meus momentos de solidão, e o melhor, uma companhia que não dava encima de mim, e era super engraçado, incentivador e sentimental. Ele era outra pessoa do que havia conhecido anos antes.
Então começamos a sair com frequência, até que em um show que eu fui chamei ele e ele topou porque tinha uma paquerinha dele que tava por lá.
Beleza, show vai, show vem, uma amiga minha começou a brincar dizendo que ele parecia muito afim de mim e que a gente combinava, e a gente não levou a sério, até que no meio do evento por algum motivo besta, nos beijamos. Foi o melhor beijo da minha vida! Sério! Pareceu coisa de filme, o mundo ficou silencioso ao meu redor, o beijo foi infinito e eu nem tava me importando com absolutamente nada, e com ele também foi assim.
Começamos a ficar, e as ficadas foram ficando cada vez mais frequentes, e o meu rolo com meu ex tava ficando cada vez mais longe, só que eu esqueci de comunicar os 2 de que eu tava ficando com eles dois, apesar de eu achar que não devia falar, já que era só fica...mas...foi a principal reclamação deles quando souberam que eles não eram únicos.
Então, rolou o momento da escolha, eu tinha que escolher um, não podia ficar com os dois, o que era lamentável porque um completava o outro na minha vida, um era mais calmaria e o outro era fogo, intensidade, paixão.
Aí a pessoa aqui, que tem sangue correndo nas veias escolheu qual? O quente e apaixonado.
Ganhava flores todos os dias, café na cama, cafuné, carícias nas costas intermináveis, riamos de tudo, víamos várias séries juntos, tínhamos nossa música, era tudo perfeito. Tão perfeito que o fato de ele implicar com o comprimento do meu vestido era bobagem, que deixar de tratar meus amigos pelos apelidos que eu tratava era bobagem, me importar porque ele queria a senha do meu celular? Opa! Pera lá...tem algo de errado que não tá certo, intimidade tem limites. O.K falei isso pra ele, ele não aceitou numa boa mas eu me impus e pronto! Aí, depois desse episódio as coisas foram ficando mais repetidas, os cuidado foi ficando excessivo, as cobranças mais pesadas e tudo sempre com um tom de " É isso que casais fazem, tu tens que aprender a ter um relacionamento sério", e só foi piorando a cada mês e a cada ano. Foram 3 anos juntos, 1 dele morando juntos... nossa, esse relacionamento abusivo foi o que mais me feriu, mais deixou marcas, e escrevendo sobre ele me fez ver que as marcas foram realmente profundas, tanto que nem consigo escrever mais sobre esse último...
Talvez, um dia eu consiga relatar como consegui os outros acima.
Já tem aproximadamente 4 anos que terminamos, mas até hoje não consigo ver a vida com a mesma leveza que via antes, não consigo mais me achar bonita, interessante e inteligente como eu costumava me achar.

Com tudo isso que vivi só posso chegar à conclusão de que MERDA acontece, só fique de olho aberto para saber o quanto antes que ela está acontecendo e sair com menos machucados possíveis.

Se você conseguiu chegar até o fim desse livro, e quer compartilhar uma experiência ou interagir de alguma forma deixo meu e-mail para que você se sinta mais a vontade para falar danyelle.aires@gmail.com


pela atenção!




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