Saturday, April 27, 2019

Acumuladora

Todo mundo tem histórias para contar, mas o que às transformam em algo de interesse geral?

Desde pequena eu sinto o desejo de escrever, e sempre que lembro dessa vontade me acompanhando desde criança, me vem na lembrança uma cena única, que sou eu pintando um tecido, fazendo nele uma praia, colando conchas reais que eu peguei na praia do Ariramba em Mosqueiro - ainda sinto o cheiro da tinta - e então colei em um caderno simples, que eu havia decidido que era nele que eu ia contar minha primeira história.

Fui pra frente da casa do meu avô - que é onde moro até hoje - e fiquei escrevendo coisas bobas que me aconteciam, que eu tinha um amor desde criança, que era um amor impossível porque minha mãe não me deixava namorar e blá blá...só que eu devia ter uns 14 anos, e esse tal amor, eu tinha desde bem antes. Louco isso né? Foi dele que eu acabei engravidando aos 17 anos, na nossa primeira noite juntos. Perdi nosso filho, e em seguida foi ele também, que me deu a segunda experiência de um relacionamento abusivo, mas na época nem me passava pela cabeça que isso seria um relacionamento abusivo, para mim era só uma briga como qualquer outra.

Outro momento que lembro que tentei escrever, foi usando a máquina de datilografia do meu avô, e nessa folha eu escrevia a relação que eu tinha com minha tia, nossa, como eu fui cruel com ela nessa narrativa. Não sei exatamente o que escrevi, mas eu lembro que ela me brigou muito e chorava com o que eu tinha escrito, hoje eu tenho um amor tão grande por ela. E aos poucos ouço dela, como foi aquela época aos olhos dela.

E hoje, quando tento escrever sobre minhas experiências, sempre me vem a mente, que escrever sobre os vários relacionamentos que vivi, são só desejos, que vão ficando cada vez mais para trás, porque não consigo ver nada que realmente valha para outro nas minhas experiências.

Estou me tornando uma acumuladora de histórias e experiências pouco interessantes, e não consigo extrair nada que seja útil para outra pessoa.

Saturday, April 20, 2019

Coerência.


É tão difícil para nós seres humanos "normais" e "saudáveis" termos EMPATIA. Uma palavrinha que já esteve na moda, virou quadro, tatuagem, imã de geladeira e a palavra mágica em discursos motivacionais, mas como MODA é sinônimo de fugacidade, já houve a mudança, hoje o que está em uso é a GRATIDÃO, que já veio depois da RESILIÊNCIA.

A cada virada de ano muda a palavra de ordem, mas quem de fato reflete sobre ela, ou tenta praticar?

A pessoa enche suas redes sociais de textos reflexivos, fotos posadas e legendas com essas palavras e que muitas vezes foram achadas no pensador.com.br . Nada contra, de verdade! Até porque somos inundados diariamente por informações, textos que devem ser lidos, livros (inclusive, esse saiu de moda de novo) que ficam cada vez mais finos e com títulos curtos e grossos, justamente porque estamos nos tornando uma geração superficial, líquida - aliás, termo esse, muito bem aplicado pelo pensador Zygmunt Bauman - e fugaz, que em tempo de aquecimento global fica mais fácil ainda fazer a analogia com liquido, então esquecemos de alimentar nosso intelecto, nossa alma; há aqueles, que fingem ouvir audiobook para não passarem por iletrados, "ah, mas pelo menos tentam, né?" que tal tentar de verdade?.

Voltando ao raciocínio...

Estamos tão superficiais, que corremos o risco de mudar o discurso dependendo da nossa roda de conversas e o pior, não percebemos isso na maioria das vezes, só se você estiver entregue ao que está sendo dito e então uma autoavaliação é necessária para saber se você realmente faz o que fala, se pensa no dia a dia o seu discurso. Aí vem a nova palavrinha que os coaching estão ganhando visibilidade encima, MINDFULNESS - atenção plena.

Se reunirmos essas palavras todas, claro que no português - não sei que mania ainda é essa nossa de ficar sempre adotando as palavras em inglês - não passam de lições que antes aprendíamos com nossos pais e avós. Não precisávamos de livros para nos ensinar o que aprendíamos naturalmente no convívio familiar, na escola e no trabalho.

Todo esse rodeio foi porque, essa semana notei que ao conversar com alguém eu me tornei uma pessoa lenta nas respostas, estou parando para avaliar tudo o que digo, sempre revisando para ver se realmente pratico o que falo ou penso, preciso ser coerente, não só com a pessoa que está comigo, mas comigo mesma. Qual o sentido eu discursar algo que não pratico?

Você tem parado para repensar o que vem falando para os outros ou fazendo?
Você se acha uma pessoa coerente?

Divide comigo para eu não achar que inventei a pólvora.

Nasmatê!