Thursday, January 18, 2024

Um antídoto para o hodierno furor dopaminérgico da Era Digital

 

https://revistasenso.com.br/arte/arte-e-religiao-ontem-hoje-e-amanha/

Talvez estejamos todos exauridos dessa velocidade que nos metemos na vida, mas poucos são loucos o bastante para verberar.

 Vou te dar alguns exemplos de sintomas dessa exaustão:

- Suspiros constantes e cansados, como se tivesse sendo interrogado por algum namorado que descobriu uma das suas traições, ou seja, tá ruim, mas poderia estar pior e, mesmo assim, te deixa cansada;

- Sente que está explorando seus olhos, fazendo deles escravos da sua ansiedade, fazendo com que ele te entregue doses de dopaminas constantes e permanentes, enquanto teu cérebro acha que está descansando, só porque ele não está participando ativamente da atividade;

- Vontade de pisar na terra, tomar banho de chuva, tomar um chá olhando a chuva cair como se não tivesse um boleto para pagar ou como se não tivesse smartphone, é nessa hora que secretamente desejas voltar aos anos 90 (se você veio de lá);

- Começa a buscar referências de hobbies que tenham conexão com a vida analógica, talvez fazer uma colagem, criar miniaturas, crochetar, escolher vinis.

- Tenta resgatar certos hábitos como ler blogs e voltar escrever no seu 👀

Bom, o fato é que eu estou cansada, quero viver um momento de desaceleração, quero pé no chão, quero apagão por um dia nas conexões virtuais. Quero fazer bolo, tomar café com as pessoas que gosto sem competirmos com telas, quero fotos dos nossos encontrinhos em polaroide para termos a surpresa de como vai sair, e não ficar tirando várias fotos até todos ficarem perfeitos. Quero a imperfeição perfeita da vida real.

E estou buscando isso, tentando conciliar com a minha profissão, que ao contrário do que quero, me empurra para um ritmo desumano.

Curiosamente, comentando com a estagiária de 19 anos (nascida em 2004, um belo exemplar de Geração Z) sobre a saudade que fiquei ao olhar as fotos do meu primeiro instagram, criado em 2011, que é repleto de fotos com filtros que hoje são retrô. Sim, já somos vintage, segundo a estagiária, e ela toda empolgada me falou que os amigos dela estão buscando resgatar esses costumes e me mandou uma artigo Nostalgia vs. Nowstalgia, andWhy Both Matter in 2022 vale a pena a leitura.

Nesse artigo, aprendemos que existe um nome para quem tenta reviver momentos não vividos pela geração atual, ou seja, o mesmo que fazíamos com a geração dos nossos pais e avós, o nome é “Nowstalgia”, conceito criado em 2016 pela agência de publicidade (tinha que ser) Madwell.

E então, o que achou em descobrir que já somos vintage?


Monday, January 15, 2024

Apagar pra quê?


Do nada resolvi arquivar todas as fotos do meu instagram.

A estagiária de 19 anos que senta ao meu lado comentou "isso é tão Geração Z" e esse comentário somou outra pergunta a que eu já tinha.

Porque senti essa necessidade de esconder minhas fotos? Porque essa atitude é "tão gZ"?

Comecei a ocultar as fotos, são ao todo 1.498 fotos, são 12 anos de histórias, e fui lembrando dos momentos vividos a cada foto arquivada, isso me fez lembrar que essa era a função dos álbuns, registrar momentos chaves para que, quando fosse visto fosse lembrado.

Acho que na verdade o que me fez querer arquivar foi a vontade de me desconectar desse mundo frenético, onde todos são lindos e perfeitos. Sinto vontade de desacelerar, de nadar contra. Nunca entendi os  motivos de eu sempre querer ir no contrafluxo.

E essa geração nova, porque são mais offline? Ainda nem viveram tempo suficiente pra ficarem saturados. Ou fomos nós quem os saturamos, exibinduos para pessoas que nem conhecemos, e sem ao menos nos questionar se eles gostariam dessa exposição toda? Seguimos os exemplos dos nossos pais, em fazermos do outro nossa propriedade até obterem a maior idade.

Enquanto arquivo minhas fotos relembro que fui, quem sou e como estou.

Bora vê quanto tempo isso vai durar.

Wednesday, July 06, 2022

Que loba, que nada.


 

Só vim aqui deixar registrado o que se passa comigo nessa nova década de vida.

Querido diário, não se passa nada e ao mesmo tempo tudo.

Me encontro em um limbo. Solta ou presa em um vazio, sensação difícil de descrever.

Diferente de outras épocas, hoje não estou nem feliz e nem triste por estar mais próxima da idade desejada que são os cinquenta.

Outrora eu celebraria com pelo menos um bolinho, mas dessa vez eu só desliguei e queria que ninguém mais lembrasse.

Minhas expectativas para essa nova idade era que eu tivesse uma explosão de ideias e soluções para problemas antigos, mas o que veio foi apatia, é, acho que essa é a palavra certa para como estou me sentindo. Apática.

Enfim saí da fase que nem jovem nem velha, agora estou na fase do nem tão velha assim, mas sem espírito jovem para viver coisas.

E foi assim que quarentei apática. e sem apetite.


[um registro para a posteridade]

Sunday, January 23, 2022

Somos no futuro o que brincamos na infância.

 A maternidade nunca foi um plano, e nunca me julguei ou cobrei por essa escolha. Desde pequena as minhas brincadeiras sempre foram interpretando uma mulher de negócios, alguém que trabalhava fora, lembrando que eu fui criança nas décadas de 80 a 90, nenhuma mulher da minha família trabalhava fora, mas minha avó tinha o dinheiro dela de alugueis que ela recebia, então, quem era meu exemplo? Até hoje não sei. Talvez eu só tenha nascido assim, tenha nascido para ser dona de mim, viver para mim.

Bom, essa minha busca por trabalho começou cedo, olhava os classificados com uns doze anos de idade, eu tô chutando essa idade já que não tenho certeza da época, mas lembro claramente que a idade limite para contratação era até os 30 anos, isso ficou bem marcado na minha memória porque era escrito nos jornais que a vaga era para mulheres até os trinta, mas a preferência era para quem tivesse 25 anos, e na época já era cobrado o grau de instrução 'Ensino Médio completo' e claro, datilografia, e lendo em voz alta uma dessas vagas, minha tia disse "quando for a tua vez, já vão estar exigindo ensino superior" e ela estava certa, as vagas para mulheres só eram duas, babá ou secretária de escritórios, normalmente de contabilidade.

Eu acordava cedo para assistir Pequenas Empresas & Grandes Negócios, fiquei feliz em saber que ainda passa na tv, inclusive, vou tentar assistir o próximo.

Estou aqui, finalmente com coragem de me assumir dona do meu negócio, depois de ter trabalhado por 19 anos como CLT.


Silêncio.

por @giselle_dekel
Lembro quando comecei a escrever aqui, neste canal. Foi em 2006 que resolvi tentar escrever, e a tentativa era desanuviar o vulcão de pensamentos que sempre tive. Hoje vejo que sou ansiosa, mas antes não entendia, a sorte era que eu sempre escrevia em diários, tudo que me incomodava, hoje não tenho disposição para diários e como podemos ver, nem blog, já que tem um tempo que não apareço por aqui.

Em 2006 eu estava com 24 anos, tinha acabado de entrar na faculdade, nem acreditava que estava conseguindo sair da bolha que minha família vive, estava começando a andar por diferentes caminhos. Cursava Publicidade e Propaganda, como sempre não sabia direito se queria mesmo isso, só sabia que queria um ensino superior, queria a chance de uma vida melhor.

Hoje, na beira dos meus 40 anos, tenho uma imensa felicidade em olhar pra trás e ver que tudo que fiz e vivi , foi bem aproveitado, não carrego arrependimentos, carrego nos três fios brancos da minha cabeça, muito aprendizado, e sigo no aguardo de mais experiências, conhecimentos e realizações.

Ando calada, minha mente mais calma, sem a efusividade de outrora, só a noite, antes de dormir que me vem a mente algumas inseguranças, incertezas que durante o dia somem. Por isso tanta gente tem medo da noite, tem medo da hora de dormir. Na escuridão que vem o bicho papão do adulto, o monte de "e se... mas... se não der certo..." Mais recentemente, um simples, ingênuo comentário de um grande amigo ajudou a pesar ainda mais a hora de dormir, ele perguntou dentro do contexto da nossa conversa, quantos anos eu ia fazer esse ano, então respondi “40” e ele “Puxa! tens que te mexer rápido” esse comentário caiu como uma granada no meu cérebro. O contexto da conversa¿ Eu tô prestes a dar um salto maior que as pernas, comprar enfim minha casa, um lugar que eu vou poder, um dia, chamar de meu.

Óbvio que eu sempre sonhei e me vi na fase madura morando em um apartamento, em um apartamento meu e sozinha, mas o processo até lá tá sendo muito longo, mais do que eu imaginei – claro que, quando imaginei isso, eu não fazia a menor ideia do que era ser uma pessoa adulta, responsável financeiramente por mim, e claro, não imaginei uma pandemia na minha vez – e sendo um processo demorado e ainda ouvir esse comentário me senti fraca, estou me sentindo incapaz, impotente, e olho para trás e aí mesmo que o peso da minha idade me puxa, porque na real, eu não me sinto pré-meio século, porque, ao completar quarenta anos estarei só há dez distante dos sonhados cinquenta. E aqui estou, sem ter construído o império que queria ter construído.

O objetivo hoje, neste domingo, é decidir, se vou me arriscar em comprar um apartamento ou se vou segurar mais esse dinheiro, pois, além de pandemia, a democracia do Brasil está ameaçada, e aí, posso mudar de rota, e quem sabe ir para outro país, esse é meu plano B criado agora, nesse momento.

E você? Tem um plano de fuga?

Thursday, March 25, 2021

Gatilhos

Meu primeiro emprego foi aos 18 anos, em uma loja para "ricos" no shopping que antes era o Iguatemi. O ano era 2000. Nessa época, aqui em Belém/PA, mulheres e homens que trabalhavam em shopping eram vistos como michês ou gays. Nunca descobri o motivo desses rótulos. Nessa época, comecei a conviver com pessoas de visões e experiências diferentes do que eu estava acostumada. Há 18 anos, meu mundo era a Marambaia, tudo o que eu conhecia estava lá e, a partir daí, tive meu primeiro choque de cultura. Fiz excelentes amizades, trago algumas até hoje. Trabalhar no shopping me proporcionou conhecimentos que carrego comigo até hoje, como: não ser tão consumista; amizades vem e vão; pessoas podem sim ser traiçoeiras (não que no meu bairro de infância não existissem pessoas vulpinosas. Claro que existiam, mas esse era o início da minha fase adulta). Eu conheci pessoas com 30 anos, pais, mães, trabalhadores que precisavam ganhar seu sustento; e eu era uma concorrente. A questão é: ali fui aprendendo como perceber sarcasmo e malícias. Uma dessas lições, que não esqueço, foi de um cliente específico da loja. Na verdade, não era ele o cliente, mas a esposa dele. Ela sim era uma importante cliente da loja e não era eu a atendente dela, afinal, eu não tinha jeito para lidar com a nata paraense - até hoje não domino essa arte, mas adquiri um pouco de traquejo ao longo dos anos -. O marido dela ia a loja para buscar as sacolas com roupas reservadas para ela provar em casa. Chique, né? Aqui em Belém, as pessoas ricas de verdade pouco vão na loja, elas recebem as novidades em casa. Bom, ele foi e eu era quem estava na vez do atendimento e por isso o recebi, ele disse o que tinha ido fazer, entreguei as sacolas e ele pediu minha ajuda para ir levar as sacolas com ele até o estacionamento, minha gerente permitiu e então fui. Um senhor super agradável, até chegarmos no carro. Quando deixei as sacolas que carregava, ele me agradeceu pegando na minha cintura e dando um beijo no meu rosto. Não gosto que peguem em mim do nada, tenho péssimas experiências com esse tipo de atitude e todas elas advindas do sexo masculino. Me afastei o máximo que eu pude, para não ser indelicada e ele achou que eu tivesse gostado. Não sei de onde ele tirou isso, já que, até hoje, no auge dos meus 38 anos, eu não disfarço quando não estou contente com algo. Ele se aproximou de novo e tentou me beijar, já colocando um cartão de visita na minha mão, depois falou: “se precisar de qualquer coisa, me liga". Só virei as costas e saí andando bem rápido, eu sentia tanto ódio que não lembro nem do tempo que levei para chegar de volta a loja. Lembro que deixei no balcão o cartão que ele me deu e fui para o estoque que ficava no andar de cima. A vontade que eu tinha era de socar uma parede para não socar a cara dele. Respirei fundo algumas vezes, bebi água e desci silenciosamente. Minha gerente me perguntou o que era o cartão e aí eu disse que ele havia me dado para caso eu precisasse de alguma coisa. Minha gerente experiente só disse: “homens sendo homens” – acho que ela disse isso, como disse, não lembro muito bem, por motivo de ódio -. Mulher nunca teve um dia de paz.

Sunday, September 06, 2020

Amor tranquilo. Será?

 https://www.instagram.com/p/CEw_V82ABxu/?utm_source=ig_web_copy_link 

Tenho um tipo de bloqueio mental quando vejo imagens de casais idosos. Antigamente eu achava fofo, inspirador, cheguei até, em alguns momentos querer viver essa experiência. Só que em algum ponto da vida, percebi que para chegar nessa fase eles passaram por muita coisa e infelizmente no geral quem aguentou mais foi a mulher. No caso eu sou mulher, logo, parei de romantizar essas cenas, essas histórias.

Meu avô foi um excelente avô, mas em recentes conversas com minha tia ela me disse que o vovô era grosso, estúpido com minha avó e com os filhos e ouvindo isso me veio na lembrança várias cenas que minha avó não fala com meu avô e fora isso, fui me dando conta de que ela era católica, talvez até fosse umbandista e teve que se batizar na adventista, religião que claramente foi escolhida por meu avô. 

E aí é duro, eu ter uma certa lembrança da educação que ele me deu que ao que me parece sempre foi libertária, mas a experiência das minhas tias e minha avó não foram das melhores.

Minha avó tinha uma revolta tão grande que vivia com dores de cabeça, triste, dói lembrar dessas coisas e eu n ter notado na hora para acalentá-la.

Perdi minha avó aos 14 anos na noite de natal de 1996 e em uma das últimas tardes que estávamos juntas ela me deu um conselho que sempre repito para os amigos, mas nunca tinha parado para avaliar o que havia por trás desse conselho que era "nunca case, mas se quiser casar, case só depois de se formar e de ter a tua casa, nunca dependa de homem" .

Minha avó, dona Marita, tinha uma vila de casas, era de lá que ela tinha o seu dinheiro, um dinheiro que o machismo e autoritarismo de seu esposo, meu avô, não podia chegar.

Minha avó foi traída diversas vezes, foi humilhada pelas amantes do meu avô e por ele também que permitiu que isso acontecesse. Então, com base nessa experiência eu sempre me pergunto "Estou mesmo disposta a passar por isso em nome de um 'relacionamento resistente e duradouro?' a resposta é sempre não" e assim sigo só. Tempos namorando e tempos solteira, mas o importante é que não estou me atropelando, não estou me sufocando em nome de um protocolo social e uma porta-retrato bonito na parede do meu futuro, mas carregado de lágrimas