Friday, October 16, 2009

A jornada sem fim



Sinto melancolia.

Solidão.

Mas não é uma solidão por ser só por falta de uma outra pessoa, mas sim, por sentir falta de mim.

Quero me conhecer. Quero saber quem sou. Por que diabos estou aqui nesse mundo doido, que não combina comigo. Fui jogada de uma carroça que corria entre a floresta de dois mundos, talvez em uma curva para desviar desse mundo eu tenha sido cuspida pra fora. Então fui acolhida por uma familia humana, pessoas não demonstram seu carinho, seu afeto, sua admiração por outros.
Uma familia que não admira o mundo intelectual, o mundo da arte. Fui cair justamente em um mundo cinza.

As cores são sem brilho, em meus olhos todas derivam do cinza.
Sinto dentro de mim um fogo queimar, mas que contenho por que aqui nesse mundo fogo é incêndio e incêndio é desgraça, devastação.

Não permito que o meu lado mágico saia, transborde a minha taça e derrame de mim todas as cores nesse mundo cinza.

Por isso me sinto só, não me encaixo aqui nesse mundinho, então me tranco no meu mundinho, falo em dialetos que nem mesmo eu entendo. Apenas finjo desabafar, e as pessoas fingem me entender.

Perguntam me por que eu abro meu coração, por que eu não falo o que realmente eu sinto, por que eu não grito, por que eu não explico, já que esse mundo é de seres racionais.

Nem eu sei. Talvez por que eu não acredite nessa racionalidade toda que me vendem.

Uma vez tentei explicar que não pertenço a esse mundo, ouvi uma gargalhada de doer nos tímpanos. Ok. Entendi. O ser humano, o ser racional, não é evoluído o suficiente para compreender outro ser, por enquanto eles estão preocupados em evoluir a Filosofia Narcisista.

A evolução da humanidade acontecerá quando esses seres que adoram intitularem como "racionais" aceitarem o sentimental de forma igual.

Quando abrirem os olhos e verem que outras pessoas também tem coração, que também sofrem, que também se sentem usadas, sugadas.

Quero encontrar meu grupo, por que a este mundo eu tenho certeza que não pertenço.

Sou do mundo colorido, onde todos os sons se misturam e formam uma melodia.

Todos cantam e dançam sem medo de errar, pois tem certeza que todos os outros olham com atenção cada gesto que o outro faz. Todos estão juntos, independente da condição financeira, da cor, aliás, no meu mundo, cor é o que menos importa, nem um ser tem cor repetida, e as cores são vibrantes de acordo com seu humor.

Assim facilita que os outros percebam de longe quem precisa de cor, de amor, para ficarem reluzentes de novo, e assim as misturas de cores acontecem, cada um doa-se um pouco.

Como eu sei desse outro mundo? Eu sonho. Tenho visões.
Você não acredita?
Sinto muito. Então vou ficar aqui calada para não te atrapalhar.

Desculpe. Ficarei calada.

4 comments:

Flávia Lima said...

Nossa, Peron. Eu me identifiquei MUITO com seu texto. Estou estupefata! Também sonho com esse mundo colorido e também desejo encaixar-me nesse em que vivemos - mesmo cinza. Afinal de contas, ainda será nossa morada por algum tempo. Quanto? Não sei. Mas há de chegar o dia em que todas as cores se misturarão, trazendo o BRANCO (luz) num enorme e perfeito catavento.
Belíssimo texto.
Parabéns!

Flávia Lima said...

A propósito, ainda acredito em jornadas com finais felizes. :)
Teu blog está lindo! Adorei a nova arte.
Bjs

Aires said...

Também acredito. Mas não aguento mais esperar...rs

Sara said...

Que intenso, senti-me mesmo aí ao pé de ti. Por vezes fico assim como se estivesse a transbordar sentidos por todos os lados sem nenhuma alma capaz de perceber nem sequer o que é sentir. Nem sei como não acontece uma explosão comigo. Acredito sim que sintas o seu mundo, bem diferente deste, aí dentro do seu ser. Adorei "o som de suas palavras". LINDO!!!